Junta-te a nós!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Formação Bíblica - Alteração

Na próxima quarta-feira, contrariamente ao que estava previsto, não haverá Formação Bíblica.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Mensagem de D. Manuel Clemente para a Quaresma de 2008

Sejamos mais livres, na única liberdade do bem!

Estimados diocesanos

Tomemos a Quaresma como ela nos é oferecida. Oferecida pela Igreja, na Palavra escolhida para a Liturgia dominical e ferial, tão bem escalonada para conduzir os catecúmenos e reconduzir os fiéis à celebração pascal. Oferecida no mais insistente convite à conversão e à penitência, em geral e sacramentalmente activadas. Oferecida também nas manifestações para-litúrgicas e da piedade cristã, próprias deste tempo e tão sugestivas, com relevo para a Via-Sacra.

Seja a Quaresma um tempo mais atento ao nosso Deus, que muito nos dirá no “deserto” que fizermos, mesmo por entre as ocupações do dia a dia. Exactamente para que a vida não fique árida e desgastante, aproveitemos a Quaresma para escolher Deus como fonte e a oração como alento.

Acompanhemos Jesus, que nos acompanhou a nós, ensinando-nos a escolher o Pai e a sua vontade, mais do que a qualquer outro apego. Foi as nossas tentações que Ele venceu, do materialismo às aparências e à sede de poder. Seleccionemos mesmo o que concretamente nos impede agora, como pessoas e comunidades, de estar mais com Cristo no Pai, com a vida na fonte, com o coração em Deus: esse mesmo exame de consciência nos indicará o mal e a cura!

Nisto nos ajudará o jejum. Um jejum que nos faça mais frugais e sóbrios, para fortalecermos a nossa liberdade, na suficiência do essencial. Na verdade, só nos convencemos do que exercitamos e só seremos livres quando nos resumirmos ao necessário. Quando “escolhermos a melhor parte” e quando “procurarmos antes de mais o reino e a sua justiça”. Aliás, só assim virá também o “acréscimo”.

Rezemos e jejuemos então, dando mais atenção a Deus e menos lugar aos consumos. Com isto seremos decerto mais caridosos, porque a caridade só cresce em corações disponíveis. Disponíveis para Deus e para os outros, libertos pelo e para o amor mais autêntico. Pascais, em suma, como o seremos no final deste tempo litúrgico, feito existencial e realista. Sejamos mesmo exemplares e proféticos, não desperdiçando as coisas nem esgotando os recursos: isso mesmo definirá o nosso exercício quaresmal.

É tão simples verificá-lo, no exemplo de Jesus. Sem nada de farisaico ou petulante, deu todo o tempo ao Pai e toda a disponibilidade aos outros. Sabia conviver e festejar, mas o coração estava-lhe seguro e sereno n’Um só e num único modo de ser para todos. O Espírito o ungia a Ele, o Espírito nos conduzirá a nós, nesta Quaresma de 2008. É exactamente para isso que ela nos é oferecida.

Para nos oferecermos com ela, ao serviço de Deus e do próximo. Com mais silêncio, ganharemos na escuta, acolhendo a Palavra que nos fará seu eco. Do que partilharmos ganharemos todos, pois “há maior felicidade em dar do que em receber”.

Ouvidos os Vigários da nossa Diocese, proponho-vos uma renúncia pecuniária, que permita a constituição dum Fundo Social Diocesano. São vários os pedidos que me chegam para apoiar esta ou aquela acção sócio-caritativa, com relevo para tudo quanto defenda e promova a vida, da concepção à morte natural. Sabendo que, em todo o arco da existência humana, há muita dignidade a defender em todos e cada um, quando não faltam infelizmente graves obstáculos a ela: das dificuldades persistentes em constituir e manter a vida familiar ou uma velhice acompanhada, às carências graves de subsistência ou realização profissional, aos problemas de integração social e económica de muitos emigrantes, aos tráficos inomináveis de droga e prostituição… Com o resultado da nossa renúncia quaresmal, caríssimos diocesanos, poderemos colaborar melhor com todas as iniciativas válidas, eclesiais ou outras, que visem debelar tais males. É o que vos proponho agora, garantindo que vos darei conta dos contributos recebidos e do destino que tiverem. Podereis entregar as vossas ofertas pecuniárias aos vossos párocos ou directamente à Diocese, até à próxima Páscoa.

Com tudo isto a celebraremos certamente mais, ou seja, mais incluída na oferta que Cristo faz de si mesmo ao Pai; mais solidários, como oferta que o Pai faz de todos nós, em Cristo, para a salvação do mundo, a começar pelo mais próximo de cada um; e mais imersos na caridade universal do Espírito. Mais livres, em suma, na única liberdade do bem!

Convosco, sempre,

+ Manuel Clemente, Bispo do Porto

(Quarta Feira de Cinzas, 6 de Fevereiro de 2008)

Mensagem de Bento XVI para a Quaresma de 2008

«Cristo fez-Se pobre por vós»


Queridos irmãos e irmãs!

1. Todos os anos, a Quaresma oferece-nos uma providencial ocasião para aprofundar o sentido e o valor do nosso ser de cristãos, e estimula-nos a redescobrir a misericórdia de Deus a fim de nos tornarmos, por nossa vez, mais misericordiosos para com os irmãos. No tempo quaresmal, a Igreja tem o cuidado de propor alguns compromissos específicos que ajudem, concretamente, os fiéis neste processo de renovação interior: tais são a oração, o jejum e a esmola. Este ano, na habitual Mensagem quaresmal, desejo deter-me sobre a prática da esmola, que representa uma forma concreta de socorrer quem se encontra em necessidade e, ao mesmo tempo, uma prática ascética para se libertar da afeição aos bens terrenos. Jesus declara, de maneira peremptória, quão forte é a atracção das riquezas materiais e como deve ser clara a nossa decisão de não as idolatrar, quando afirma: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Lc 16, 13). A esmola ajuda-nos a vencer esta incessante tentação, educando-nos para ir ao encontro das necessidades do próximo e partilhar com os outros aquilo que, por bondade divina, possuímos. Tal é a finalidade das colectas especiais para os pobres, que são promovidas em muitas partes do mundo durante a Quaresma. Desta forma, a purificação interior é corroborada por um gesto de comunhão eclesial, como acontecia já na Igreja primitiva. São Paulo fala disto mesmo quando, nas suas Cartas, se refere à colecta para a comunidade de Jerusalém (cf. 2 Cor 8-9; Rm 15, 25-27).

2. Segundo o ensinamento evangélico, não somos proprietários mas administradores dos bens que possuímos: assim, estes não devem ser considerados propriedade exclusiva, mas meios através dos quais o Senhor chama cada um de nós a fazer-se intermediário da sua providência junto do próximo. Como recorda o Catecismo da Igreja Católica, os bens materiais possuem um valor social, exigido pelo princípio do seu destino universal (cf. n. 2403).

É evidente, no Evangelho, a admoestação que Jesus faz a quem possui e usa só para si as riquezas terrenas. À vista das multidões carentes de tudo, que passam fome, adquirem o tom de forte reprovação estas palavras de São João: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como pode estar nele o amor de Deus?» (1 Jo 3, 17). Entretanto, este apelo à partilha ressoa, com maior eloquência, nos Países cuja população é composta, na sua maioria, por cristãos, porque é ainda mais grave a sua responsabilidade face às multidões que penam na indigência e no abandono. Socorrê-las é um dever de justiça, ainda antes de ser um gesto de caridade.

3. O Evangelho ressalta uma característica típica da esmola cristã: deve ficar escondida. «Que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita», diz Jesus, «a fim de que a tua esmola permaneça em segredo» (Mt 6, 3-4). E, pouco antes, tinha dito que não devemos vangloriar-nos das nossas boas acções, para não corrermos o risco de ficar privados da recompensa celeste (cf. Mt 6, 1-2). A preocupação do discípulo é que tudo seja para a maior glória de Deus. Jesus admoesta: «Brilhe a vossa luz diante dos homens de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos Céus» (Mt 5, 16). Portanto, tudo deve ser realizado para glória de Deus, e não nossa. Queridos irmãos e irmãs, que esta consciência acompanhe cada gesto de ajuda ao próximo evitando que se transforme num meio nos pormos em destaque. Se, ao praticarmos uma boa acção, não tivermos como finalidade a glória de Deus e o verdadeiro bem dos irmãos, mas visarmos antes uma compensação de interesse pessoal ou simplesmente de louvor, colocamo-nos fora da lógica evangélica. Na moderna sociedade da imagem, é preciso redobrar de atenção, dado que esta tentação é frequente. A esmola evangélica não é simples filantropia: trata-se antes de uma expressão concreta da caridade, virtude teologal que exige a conversão interior ao amor de Deus e dos irmãos, à imitação de Jesus Cristo, que, ao morrer na cruz, Se entregou totalmente por nós. Como não agradecer a Deus por tantas pessoas que no silêncio, longe dos reflectores da sociedade mediática, realizam com este espírito generosas acções de apoio ao próximo em dificuldade? De pouco serve dar os próprios bens aos outros, se o coração se ensoberbece com isso: tal é o motivo por que não procura um reconhecimento humano para as obras de misericórdia realizadas quem sabe que Deus «vê no segredo» e no segredo recompensará.

4. Convidando-nos a ver a esmola com um olhar mais profundo que transcenda a dimensão meramente material, a Escritura ensina-nos que há mais alegria em dar do que em receber (cf. Act 20, 35). Quando agimos com amor, exprimimos a verdade do nosso ser: de facto, fomos criados a fim de vivermos não para nós próprios, mas para Deus e para os irmãos (cf. 2 Cor 5, 15). Todas as vezes que por amor de Deus partilhamos os nossos bens com o próximo necessitado, experimentamos que a plenitude de vida provém do amor e tudo nos retorna como bênção sob forma de paz, satisfação interior e alegria. O Pai celeste recompensa as nossas esmolas com a sua alegria. Mais ainda: São Pedro cita, entre os frutos espirituais da esmola, o perdão dos pecados. «A caridade – escreve ele – cobre a multidão dos pecados» (1 Pd 4, 8). Como se repete com frequência na liturgia quaresmal, Deus oferece-nos, a nós pecadores, a possibilidade de sermos perdoados. O facto de partilhar com os pobres o que possuímos, predispõe-nos para recebermos tal dom. Penso, neste momento, em quantos experimentam o peso do mal praticado e, por isso mesmo, se sentem longe de Deus, receosos e quase incapazes de recorrer a Ele. A esmola, aproximando-nos dos outros, aproxima-nos de Deus também e pode tornar-se instrumento de autêntica conversão e reconciliação com Ele e com os irmãos.

5. A esmola educa para a generosidade do amor. São José Bento Cottolengo costumava recomendar: «Nunca conteis as moedas que dais, porque eu sempre digo: se ao dar a esmola a mão esquerda não há de saber o que faz a direita, também a direita não deve saber ela mesma o que faz» (Detti e pensieri, Edilibri, n. 201). A este propósito, é muito significativo o episódio evangélico da viúva que, da sua pobreza, lança no tesouro do templo «tudo o que tinha para viver» (Mc 12, 44). A sua pequena e insignificante moeda tornou-se um símbolo eloquente: esta viúva dá a Deus não o supérfluo, não tanto o que tem como sobretudo aquilo que é; entrega-se totalmente a si mesma.

Este episódio comovedor está inserido na descrição dos dias que precedem imediatamente a paixão e morte de Jesus, o Qual, como observa São Paulo, fez-Se pobre para nos enriquecer pela sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9); entregou-Se totalmente por nós. A Quaresma, nomeadamente através da prática da esmola, impele-nos a seguir o seu exemplo. Na sua escola, podemos aprender a fazer da nossa vida um dom total; imitando-O, conseguimos tornar-nos disponíveis para dar não tanto algo do que possuímos, mas darmo-nos a nós próprios. Não se resume porventura todo o Evangelho no único mandamento da caridade? A prática quaresmal da esmola torna-se, portanto, um meio para aprofundar a nossa vocação cristã. Quando se oferece gratuitamente a si mesmo, o cristão testemunha que não é a riqueza material que dita as leis da existência, mas o amor. Deste modo, o que dá valor à esmola é o amor, que inspira formas diversas de doação, segundo as possibilidades e as condições de cada um.

6. Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma convida-nos a «treinar-nos» espiritualmente, nomeadamente através da prática da esmola, para crescermos na caridade e nos pobres reconhecermos o próprio Cristo. Nos Actos dos Apóstolos, conta-se que o apóstolo Pedro disse ao coxo que pedia esmola à porta do templo: «Não tenho ouro nem prata, mas vou dar-te o que tenho: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda» (Act 3, 6). Com a esmola, oferecemos algo de material, sinal do dom maior que podemos oferecer aos outros com o anúncio e o testemunho de Cristo, em cujo nome temos a vida verdadeira. Que este período se caracterize, portanto, por um esforço pessoal e comunitário de adesão a Cristo para sermos testemunhas do seu amor. Maria, Mãe e Serva fiel do Senhor, ajude os crentes a regerem o «combate espiritual» da Quaresma armados com a oração, o jejum e a prática da esmola, para chegarem às celebrações das Festas Pascais renovados no espírito. Com estes votos, de bom grado concedo a todos a Bênção Apostólica.

BENEDICTUS PP. XVI